terça-feira, 2 de novembro de 2010

Músico compõe ópera inspirada em pinturas sobre Baader-Meinhof

No mês passado, Verena Becker, ex-integrante do grupo radical de extrema-esquerda RAF (Fração do Exército Vermelho, do alemão), foi a julgamento pelo assassinato do promotor público Siegfried Buback, em 1977. O processo que acontece atualmente em Stuttgart, no sul da Alemanha, evidencia o fato de que o grupo terrorista --também conhecido por Baader-Meinhof-- ainda não foi relegado aos livros de história.
Meses após o assassinato de Buback, três membros da RAF tiraram suas próprias vidas na prisão. Esses suicídios inspiraram as controversas pinturas do pintor alemão Gerhard Richter, chamadas de "18 de outubro de 1977". David Chesworth, compositor australiano, explica em entrevista à Deutsche Welle por que essas imagens o levaram a escrever uma ópera.

A "Ópera Richter/Meinhof", de Chesworth, terminou recentemente sua temporada no Melbourne International Arts Festival. Em breve, a peça deverá ser apresentada na Europa

Deutsche Welle -  Por que você escolheu escrever uma ópera sobre o Baader-Meinhof?
David Chesworth - Depois do 11 de setembro, eu passei a me interessar por terrorismo e sobre como as noções de terrorismo mudou desde as décadas de 1960 e 1970. Quando Gerhard Richter pintou suas séries "18 de outubro de 1977", no final dos anos 1980, foi um período intermediário entre o terrorismo "vermelho" de 1960 e 1970 e o de hoje. O trabalho de Richter fornece um elo interessante entre essas duas ideias do que significa o terrorismo.

Deutsche Welle -  Do que se trata a ópera?
David Chesworth - Eu queria contar a história do grupo Baader-Meinhof, da Alemanha daquele período. E ainda queria explorar o ponto de vista de Richter pintando esses suicídios anos depois. Quis criar um novo mundo, um novo espaço para explorar. Minha intenção é que os espectadores mergulhem no trabalho e descubram novas coisas que levem as pessoas a verem o mundo de diferentes formas. Tanto Richter quanto Meinhof queriam apresentar suas próprias maneiras de ver o mundo e achei que seria interessante explorar esses contrastes. As pinturas de Richter eram uma interpretação da RAF, que tinha como musa [Ulrike] Meinhof. Meu trabalho vai um passo além. Eu observo Richter observando Meinhof e, através disso, o público ganha uma nova perspectiva.

Deutsche Welle -  Por que isso se mantém relevante atualmente?
David Chesworth - A ópera olha para política individual de Richter e Meinhof, mas também enfoca o desejo coletivo de se conquistar mudanças através de grupos sociais. Meinhof queria usar um tipo de grupo social para derrubar outro. Eu imaginei que seria um momento interessante para fazer uma peça sobre essa ideia. Em um mundo pós-Thatcher, o foco está no individual e o socialismo é demonizado. Temos um Parlamento dividido na Austrália e em muitos outros países do mundo --em muitos sentidos estamos vivendo agora um período de estagnação política. Eu quis comparar o mundo na década de 1960 e 1970 com a forma que vivemos hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário