domingo, 10 de outubro de 2010

Em noite fria, Mutantes fazem show caloroso, cheio de ironias políticas, no Festival SWU

Sérgio Dias canta durante apresentação dos Mutantes no primeiro dia do Festival SWU, em Itu (09/10/2010)

Talvez por causa do disco novo e pela inclusão de inéditas no repertório, Sérgio Dias parece estar considerando esta turnê dos Mutantes como a verdadeira volta da banda. "Faz uns 40 anos que a gente esperava ver isto, deste tamanho", disse o músico ao início do show, para uma plateia de cerca de 12 mil pessoas, na noite fria deste sábado.
A banda foi uma das principais atrações do SWU neste primeiro dia de festival, e fez uma apresentação calorosa e cheia de ironias políticas. Em "El Justiciero", chamou a candidata à presidência Dilma Rousseff de defensora dos "puebres" e, mais adiante, pediu: "besame mucho, Lulacito".
Da formação que se reuniu há alguns anos com a participação de Zélia Duncan nos vocais, sobrou apenas Sérgio Dias --fundador dos Mutantes, ao lado do irmão Arnaldo Baptista, que abandonou o grupo em 2007, e de Rita Lee, que jamais participou dos reencontros. Dias foi acompanhado de quatro novos asseclas e um velho companheiro, o baterista Dinho Leme, que já participara dos Mutantes nos anos 60.
Coube à cantora Bia Mendes a ingrata tarefa de ocupar o lugar que será sempre associado a Rita Lee. Ela faz o que pode e é competente nos backings, mas em canções em que atua como solista, a comparação é inevitável e desfavorável. Faltam a ela ironia e leveza em "Top Top" e "Baby", que acaba virando uma balada cafona.
O show é calcado nos sucessos do grupo, e os músicos alteram apenas discretamente os arranjos originais que, a bem da verdade, prescindem de qualquer atualização. Em 60 minutos cravados, sucessos como "Vida de Cachorro", "Minha Menina" e "Balada do Louco" empolgam uma plateia que nem havia nascido quando essas músicas foram lançadas.
Do disco novo, comparece apenas a ótima "Querida, Querida", parceria de Dias com Tom Zé, seu mais constante colaborador no disco novo do grupo, "Haih or Amortecedor", lançado em 2009 nos Estados Unidos e Europa, e que deve chegar ao Brasil em novembro. "Desculpem, aqui as coisas demoram um pouco", ironizou Dias. O disco teve seu lançamento atrasado no país por desacertos com selos nacionais, segundo o líder dos Mutantes.
À frente do grupo, Dias está à vontade. Deu uma de guitar hero e fez um solo de cerca de cinco minutos em "Ando Meio Desligado", sentado na beira do palco, enquanto os músicos citavam o refrão de "While My Guitar Gently Weeps", numa alusão explícita a George Harrison. A plateia deu o que a banda pediu, e fez coro em "Balada do Louco", "Minha Menina" e "Sabotagem".
O show terminou com uma versão pesadíssima de "A Hora e a Vez do Cabelo Nascer", mais uma pérola de ironia ao engajamento político: "O meu cabelo é verde-amarelo, violeta e transparente. Minha caspa é de purpurina, minha barba azul anil".

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